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Listão da semana: Marguerite Duras, Igiaba Scego, Sheila Heti

 



#175 — Segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Anos 80 com vista para o mar

Rochas Negras é o nome do hotel na Normandia onde Marguerite Duras se refugiava nos anos 80, quando conheceu seu último e jovem amante. E onde, de sua janela com vista para a praia de Trouville-sur-Mer, escreveu crônicas para o jornal Libération. Encomendadas pelo diretor do “Libê”, os textos são reflexões sobre acontecimentos da época (das Olimpíadas de Moscou à fome na África) e da pequena cidade praiana, que chegam às livrarias esta semana na coletânea O verão de 80.

Na seleção de lançamentos, um romance sobre diáspora e desenraizamento, de Igiaba Scego; o novo livro de Sheila Heti; um romance ilustrado do século 19 sobre a corte brasileira; uma conversa sobre violência sexual, com orientações de uma psicóloga, uma antropóloga e uma promotora de Justiça; o Design como atitude, de Alice Rawsthorn; uma nova edição de O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, com ilustrações de Marcelo Tolentino; Senhor Vênus, romance de Rachilde proibido na época de seu lançamento, no século 19; contos sobre vários tipos de perdas, de Rodrigo Silveira; Muambas, romance de estreia da historiadora Márcia Juliana Santos; e mais novidades quentinhas
 
Viva o livro brasileiro!

Iara Biderman e Jaqueline Silva

Veja os lançamentos de semanas anteriores.

 
O verão de 80. Marguerite Duras. 
Trad. Adriana Lisboa • Pref. Anne Brancsy • Relicário • 120 pp • R$ 62,90

Coletânea de dez crônicas publicadas no jornal Libération e escritas da janela da romancista e diretora de cinema francesa enquanto esteve diante da vista da praia de Trouville-sur-Mer, na Normandia. Nos textos, encomendados pelo diretor do jornal francês, a vencedora do prêmio Goncourt pelo romance O amante (Tusquets, 2020) tece críticas à França e ao mundo na década de 80.

“Então, aqui estou, escrevendo para o Libération. Não tenho um tema para este artigo. Mas talvez isso não seja necessário. Acho que vou escrever sobre a chuva. Está chovendo. Chove desde o dia quinze de junho. Deveríamos escrever para um jornal como se estivéssemos andando na rua. Andamos, escrevemos, atravessamos a cidade, ela é atravessada, termina, a caminhada continua, da mesma forma atravessamos o tempo, uma data, um dia, e depois ele é atravessado, termina.
[...] Chegou em meio à tempestade a notícia de um novo esforço solicitado aos franceses diante de um ano difícil pela frente, semestres ruins, dias magros e tristes de desemprego crescente, não sabemos mais de que esforço se trata, de que ano, por que de súbito ele é diferente, não podemos mais ouvir esse senhor que fala para anunciar que há algo novo e que ele está conosco diante da adversidade, não podemos mais em absoluto vê-lo nem ouvi-lo. Mentirosos, todos eles.” Leia o trecho na íntegra


Leia também: A inclassificável coletânea de Marguerite Duras mostra o valor imensurável do ato de escrever na vida da autora

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Cassandra em Mogadício. Igiaba Scego.
Trad. Francesca Cricelli • Nós • 376 pp • R$ 89
 
Indicado ao Prêmio Strega, o novo romance da escritora ítalo-somali, autora de Adua e Minha casa é onde estou, ambos publicados em 2022 pela editora Nós, acompanha uma jovem de dezesseis anos às vésperas do Ano Novo, em Roma, no final da década de 90. Enquanto informações sobre a guerra civil na Somália ganham o noticiário, ela é acometida por jirro, um mal que afeta descendentes da diáspora. Tal qual uma Cassandra (profetisa de Apolo) moderna, Scego dá à protagonista o dom da visão e a possibilidade do perdão perante as dores do desenraizamento, racismo e xenofobia. 

Leia também: Filha de imigrantes da antiga Somália Italiana, a escritora romana Igiaba Scego fala sobre seus romances, música brasileira e a atual política migratória na Itália

 
Pura cor. Sheila Heti.
Trad. Bruna Beber • Companhia das Letras • 232 pp • R$ 79,90
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O novo romance da escritora canadense, autora de Maternidade: um romance (Companhia das Letras, 2019), conta a história de vida da protagonista Mira, dividida entre o amor por Annie e o amor pelo pai. Quando ele morre, ela se vê totalmente embrenhada na dimensão da perda e nas estranhas linhas desenhadas pelo Criador, enquanto precisa enfrentar as transformações propiciadas pelos primeiros amores, a orfandade, a escola e a família.
 
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As aventuras de Nhô Quim: ou impressões de uma viagem à Corte. Angelo Agostini e Cândido Aragonez de Faria.
Org. e posf. Aline dell'Orto e Marcelo Balaban • Chão Editora • 200 pp • R$ 61
 
Com organização e posfácio dos historiadores Aline dell'Orto e Marcelo Balaban, que descrevem o panorama das publicações ilustradas brasileiras durante o século 19, este romance ilustrado ― originalmente publicado em 1869 pelo italiano Angelo Agostini e continuado por Cândido Aragonez de Faria em 1872 ― percorre as aventuras de Nhô Quim: um jovem azarado do interior, cercado por ricos, escravistas, corruptos e golpistas, membros da Corte do Brasil imperial.

Leia também: Historiadores refutam o pensamento nostálgico (e delirante) de que o Império foi uma época de prosperidade

 
Precisamos falar de consentimento: uma conversa descomplicada sobre violência sexual além do sim e do não. Arielle Sagrillo Scarpati, Beatriz Accioly Lins e Silvia Chakian.
Bazar do Tempo • 184 pp • R$ 92

A psicóloga, a antropóloga e a promotora de justiça reúnem diretrizes da psicologia, do direito e da literatura especializada no assunto, além de casos conhecidos de violência sexual contra meninas e mulheres. Com linguagem acessível e que descomplica o “juridiquês”, as autoras diferenciam as formas de violência sexual, dão dicas de como abordá-las no ambiente escolar e familiar e indicam projetos e iniciativas que auxiliam mulheres nessas situações.

Leia também: Ao relatar um assédio na infância, Tatiana Salem Levy reflete sobre o silêncio e a solidão das mulheres na vida íntima

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Design como atitude. Alice Rawsthorn.
Trad. Alexandre Morales • Ubu • 224 pp • R$ 69,90

Edição expandida, atualizada e revisada pela autora. A crítica de design britânica comenta como designers lidam com os desafios mais complexos e inovadores do desenho industrial em uma era de crises como emergência climática, consequências da pandemia de covid-19, desigualdades, polarização política e questões de identidade.

Leia também: Morto em junho de 2020, Milton Glaser instigou profissionais a pensar na dimensão ética do design gráfico

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O retrato de Dorian Gray. Oscar Wilde.
Trad. Samir Machado de Machado • Apres. Vitor Martins • Posf. Manoel Carlos Alves, Natalia Borges Polesso e Samuel Gomes • Ils. Marcelo Tolentino • Antofágica • 480 pp • R$ 119,90

O único e famoso romance do escritor, poeta e dramaturgo irlandês ganha uma nova edição com tradução inédita do escritor gaúcho Samir Machado de Machado, autor de O crime do bom nazista (Todavia, 2023), notas de rodapé sobre o processo de escrita da obra e mais de sessenta ilustrações do artista Marcelo Tolentino, feitas com a técnica da monotipia.

Leia também: Escritor gaúcho Samir Machado de Machado faz releitura de Agatha Christie com pitadas de romance histórico e aceno à política nacional
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Senhor Vênus. Rachilde.
Trad. Flávia Lago • Apres. Helena Vieira • Pref. Maurice Barrès (1862-1923) • Ercolano • 212 pp • R$ 99,80

Escrito na segunda metade do século 19, é o romance mais famoso da escritora francesa Rachilde (pseudônimo de Marguerite Vallette-Eymery), figura do movimento literário do decadentismo e uma das diretoras da revista literária Mercure de France. No livro, que teve suas cópias recolhidas em Paris, Rachilde aborda convenções e identidade de gênero, sexualidade e desejos sexuais ao construir uma personagem similar a si mesma: uma nobre da alta sociedade parisiense que veste roupas e pratica esportes masculinos, e rompe com as normas conservadoras e tradicionais da época.

Leia também: Cada cirurgia trans é um enunciado somático que inventa um novo modo de vida para além do binarismo sexual, escreve Paul B. Preciado

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Coisa nenhuma. Rodrigo Silveira.
Urutau • 120 pp • R$ 52

Acompanhado pelo texto de orelha da escritora vencedora do Jabuti Micheliny Verunschk, o escritor compila uma coletânea de contos sobre as vontades que surgem após vivenciar diversos tipos de perda: a perda da confiança, paciência e vergonha; perdas maiores, como a da própria consciência e a dos outros; e por fim, a dolorosa e inevitável perda de alguém próximo. 

Ouça também: O psicanalista Christian Dunker e a escritora e psiquiatra Natalia Timerman conversam sobre como a escrita ajuda a lidar com a morte e a incompreensível dor da perda

 
Muambas. Márcia Juliana Santos.
Editora Ponta de Lança • 156 pp • R$ 64,90

O selo editorial da livraria independente Ponta de Lança lança o primeiro romance da professora e historiadora paulistana, autora de It’s All True e as imagens do Brasil de Orson Welles (Alameda Editorial, 2015). Muambas descreve os deslocamentos da família Franco de uma pequena cidade no interior cearense às lojas de mercadoria contrabandeada no centro de São Paulo. Com texto de orelha do arquiteto e urbanista Nabil Bonduki, Santos narra a pobreza, violência, perseguição da polícia, prisão e morte que acometia a cidade nas décadas de 70 e 80.

Leia tambémPauliceia esfacelada — Como a recorrência de demolições e reconstruções transformou a cidade de São Paulo em uma somatória de fragmentos sem homogeneidade
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+ novidades quentinhas
  • Manual prático de educação antirracista. Allan Pevirguladez.
    O cantor, escritor, professor e consultor do Instituto Vini Junior compila ações, iniciativas e práticas educacionais antirracistas para professores.
    Cortez • 112 pp • R$ 45
     
  • Nada mais será como antes. Miguel Nicolelis.
    Estreia do neurocientista paulistano, professor emérito da Universidade Duke, nos EUA, na ficção científica, narra as tentativas de um matemático e de uma neurocientista para reverter uma catástrofe ambiental.
    Planeta Minotauro • 512 pp • R$ 89,90
     
  • 23 minutos. Waldson Souza.
    No romance do escritor brasiliense, autor de Oceanïc (Dame Blanche, 2020), um jovem vive uma estranha falha no tempo que o faz presenciar todas as noites, por 23 minutos, a experiência de morrer e voltar à vida. 
    HarperCollins • 240 pp • R$ 49,90
     
  • Ciberfeminismo, redes e espaços de poder. Márcia Marques.
    A jornalista, pesquisadora e professora da UnB aborda alternativas para pessoas que buscam relacionamentos em espaços digitais e analisa a troca dos serviços das plataformas pelo uso de dados dos usuários.
    Serpente Editora • 152 pp • R$ 64,90
     
  • Minha vida: fragmentos de uma autobiografia. Zygmunt Bauman.
    A professora e socióloga polonesa Izabela Wagner, autora de Bauman: uma biografia (Companhia das Letras, 2020), reúne aqui diários e anotações do autor de Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (Zahar, 2004), além de cartas de Bauman endereçadas às filhas. 
    Org. Izabela Wagner • Trad. Berilo Vargas • Zahar • 240 pp • R$ 109,90
     
  • Abayomi: o reluzir dos encontros preciosos. Lívia Sant’Anna Vaz e Chiara Ramos.
    As autoras unem a sabedoria Ubuntu (“Eu sou porque nós somos”) às histórias do clã de guerreiras do Império Ashanti para narrar o desafio de sete irmãs para salvar o povoado onde vivem.
    Ils. Bárbara Quintino • Yellowfante • 32 pp • R$ 59,80

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(Ilustração: Talita Hoffmann)
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